Enquanto você acorda feliz na segunda-feira por ter tido um
domingo muito bom com a pessoa legal que eu sou, fico em casa fazendo as contas
de que pelo menos três dessas vacas que você conversa vão ocupar o meu lugar
durante a semana. Vacas essas que eu nem sei se conheço, mas já odeio. Alias,
eu odeio qualquer pessoa que encoste em você, porque na minha cabeça você é
meu. E odeio todo mundo que chegou na sua vida antes de mim. Odeio os seus
amigos porque eles apresentam mais vacas pra você. E odeio imaginar que uma dessas
vacas possa ter uma bunda mais dura que a minha porque ao invés de ficar em casa
escrevendo essas maluquices fica malhando, porque ela é uma vaca rata de
academia.
Durante o dia crio uma competição mental pra ver quem vai
ligar primeiro. E se não é você que liga, te odeio também. Mas o meu odiar é
igual do Cazuza, passa um segundo e eu tô amando mais. Aí passa mais um segundo
e eu fico com medo de amar demais. Bate uma vontade de ser filha da puta,
porque se por acaso você for comigo, eu fui primeiro e tenho menos uma coisa
pra me lamentar. Mas você sabe que covardia é meu segundo nome, e que fica
sendo o primeiro quando te imagino indo embora. Não dá pra encarar essa vida
sem graça sem você.
Mas eu não sou sempre assim, consigo disfarçar na maioria
das vezes. Como por exemplo, quando você vai pro banheiro tomar banho e eu
continuo na sala, fingindo que o que tá passando na televisão me interessa,
fuçando no seu telefone, pensando no quanto seria bom se desse pra dar uma
conferida nas ligações telepáticas também.
Eu fico revezado entre ter 25 e 5 anos de idade, mesmo
sabendo que isso te irrita. Mas vou continuar fazendo porque me considero uma
pessoa evoluída (já que consegui superar coisas como gostar de ficar doente só
pra ver todo mundo cuidando de mim). Ou talvez eu continue fazendo pra dar uma
esquentada na coisa, ou talvez porque você fica mó gato irritado.
Tenho frustrações que sabe lá Deus quando vou superar. Não
consigo falar a frase "confiar em homens" sem ironizar, jogar alguma
piada depois. Passo três dias tranquila na proa do barco e quatro dias pendurada no
mastro gritando que o barco vai afundar. Mas no fundo só quero mesmo que alguém
me ajude a velejar, você sabe.
Tem “neurótica” escrita na minha testa, e tá brilhando
porquê acrescentei uns leds em volta das letras. Mas tem “eu preciso de você”
também. Prometo que se disser que vai gostar de mim por um bom tempo, eu tento
ficar melhorzinha. A gente até toma uma coca em algum lugar, na mesma latinha
com dois canudos pra ficar romântico. E olha que eu odeio coca...