27 de abril de 2014

Não mais; para mais; além do mais.

Como posso ser a mesma se o mundo não é mais o mesmo? E como posso voltar a mim se o mundo modificando-se, modificou tudo o que eu chamava de meu - minha zona de conforto? Se essa área não mais existe; se eu perdi o tripé que mantinha as coisas razoavelmente equilibradas na linha do que é correto e apropriado, como posso, hoje, ser corretamente apropriada? Não sendo o que costumava ser, permaneço em cima de duas pernas, atormentada pela coragem de andar sozinha que me impulsiona a viver de modo visceral. Angustiada com todas as flores da minha pele.
Viver sobre um tripé não me era necessário. Me livrava de ser livre - com todas as redundâncias. De sentir e pensar. Principalmente, me livrava dos devaneios. Devaneios em vãos de mim. Não há caminho de volta. Eis a grande e previsível descoberta. Agora que sou esta, de quem pouco sei, só me resta sê-la. Perdida, a melhor maneira de ir me achando, vou. Caminhando, escrevendo, e seguindo essas linhas que de certo, muito mais falam além disto.

11 de março de 2014

Me(n)t amor fo(a)se.



Dos tempos de princesa do papai até pouco, não viam em mim o que era, ou o que poderia Ser, de verdade. Nem mesmo eu via. Me escondia atrás de bilhetes espalhados pelo quarto e, mais tarde, em textos cuspidos nas agendas juvenis onde não importava a escrita, importava não explodir pro lado de dentro. Vivia engolindo controversas, tampando a visão, cabendo na caixa, ajeitando o vestido de moça comportada e, pelos cantos dos olhos, reparando o alinhamento do cabelo. Mas a Mente, a que parecia viver no automático, era promiscua, pensava sempre no desconhecido, na liberdade. Mais do que tudo isso, queria Ser. Entre amores e desamores, achou uma brecha e, tecendo o que poderia atribuir a Ser, foi. Mas por essa estrada, querida, é perigoso. Não ouviu. De qualquer forma seria.
 Jogada de um lado para outro; caindo, levantando. Foi. Entre pessoas que davam sapos e esperavam que vomitasse borboletas; entre quem trocava pote de ouro por saco de pedras; por quem me olhava limpinha e teimava na sujeira; por quem esnobava a verdade e adorava a mentira. Foi. Eu, dolorida, tentei jogar o jogo, mudar e retribuir. Mas, quando não quis aceitar a ingenuidade, vi o quanto imaturo era meu coração. Que me adaptar era como comer sequilhos e não beber água – não passa da garganta. E me tornar um deles era me obrigar a Ser menos do que poderia.
Viver deslocada não é a forma mais fácil de viver, porém, a mais libertadora. Caminhar deslocada não torna o caminho mais prazeroso, mas amadurece por sua conta e risco. Amadurecer me parece bom, ainda que peça entendimento do mundo, ainda que entender o mundo me deixe com olhos de ressaca.
Eu nunca coube nas mãos de ninguém. Caberei menos agora que descobri que Ser é mutável. Que Sou o que posso estar e estou o que posso Ser. Ainda que isso custe me perder para depois me encontrar. 
Aprendi a viver meus tropeços e recomeços com muito mais cuidado e respeito. Querer que nada mude é querer em vão. O mundo é redondo e dizem que sua maior qualidade é girar. 

14 de janeiro de 2014

De tudo que puder atribuir a mim, atribuirei coragem.  Coragem para amar pessoas que não são capazes de amar a si mesmas, e ainda me amar o dobro depois.  Coragem para assumir meus demônios e saber conviver com eles quando o resto do mundo diz que o importante mesmo é me livrar, enquanto só sabem esconder seus próprios. Coragem para ter angústias existenciais e não fazer uso de anestésicos ou fugas emocionais.  Coragem para acreditar que mesmo que o meu céu esteja nublado hoje, amanhã estará azul e com sol.  Coragem para ir em frente, e ainda mais para desistir – desistências podem exigir o dobro dela.  Coragem para olhar as minhas cicatrizes com cuidado, mas não me julgar vítima de nada.  Coragem para nunca pensar que já sei quem sou o suficiente para não me permitir mudar. 
Que nada em mim seja metade, muito menos covarde. Nunca. Não sou.  

3 de setembro de 2013

AMflORes

Eu sei que você já amou algumas vezes. Também sei que essas vezes não deram certo. Na primeira, você quis tanto um amor que quando o teve, não quis mais. Como uma criança mimada que enjoa rápido do doce. Na segunda, nada parecia muito bom. O abraço e o beijo não encaixavam. As ideias, muito menos. Mas você insistiu pelo tremor no corpo que aquele beijo com força e aquele abraço desajeitado lhe causavam. Achou até que seria a última tentativa... Mas não foi. Na terceira, ele queria você, mas você queria o mundo. Na quarta, você o queria e ele, não só queria o mundo, como também todas as outras. Na quinta, nem houve tempo dele saber que era amor. Na sexta, na sétima... Eu sei que você já amou algumas vezes, sei também que você cansou depois de todas elas.
Amores falidos colocam qualquer questão de física quântica no chinelo. Incomodam, frustram, enfraquecem. São como setas que apontam um caminho numa estrada. O caminho para o não-amor. O que decora e alegra sem apego. Como flores de plástico em um canto na sala.  Você sorri quando elas chegam e não chora quando morrem. Você decora sem precisar combinar sua vida com a delas. Não precisa mudar o móvel para onde bata sol, não precisa regar, não cria expectativas com seus brotinhos.
Flores de plástico te poupam do mergulho - o da emoção. Mas veja, é pulando que seguramos firme. É pulando que temos fé. Fé no amor e na renovação das águas, porque se não der certo hoje, com toda certeza, dará amanhã. E se o certo durar vinte anos ou vinte minutos, terá valido a pena pelas sensações. Amores vão, amores vêm. Pessoas vão, pessoas vêm. E você, minha querida (o), continua inteira. E a vida, a vida se acostuma com como você a decora.
Flores de plástico não morrem, porém não perfumam.