De todas as minhas esquisitices, eis a pior delas: a cada
dia eu envelheço ficando mais nova. Sem aquele papo de velha fugindo da idade
insistindo em ser descolada. É papo de quem tem certeza absoluta que já foi
mais prática, mais solta, mais desencanada e mais superficialmente feliz. Talvez
eu tenha sido madura demais pra ter neuras. Ou talvez eu tenha sido imatura
sufocando todas elas. Tanto faz.
Eu amo tanto tanta gente e mesmo assim sinto preguiça de
todas elas. Sinto preguiça de mim e da minha vontade interminável de ter ou
sentir alguma coisa que ainda não sei o que é. Uma disposição pra mudar o
mundo, mas nenhuma pra levantar da cama e encarar a vida. É que a vida é como
sentir cheiro de chuva, olhar pela janela e não ver nada. Me faz perder o
deslumbramento.
Quero que tudo seja profundo pra alcançar a minha
profundidade. Quero que tudo seja profundo porque me cabe todinha. Pra entender
essa mania de nunca achar que uma coisa é só aquela coisa. E que por trás dela
existem muitas outras. Pra alimentar e dar razões aos meus dramas.
De todas as minhas esquisitices, eis a pior delas: ser
aborrecente beirando os 20 anos.
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