Boa noite, dona
Sônia, não vejo a senhora há algum tempo. Ah, a senhora me vê? Eu tô sempre
passando pela sua rua não prestando atenção nas coisas, em outro mundo.
Entendi. É que meus dias têm sido assim, dona Sônia, eu tenho dedicado boa
parte deles a entender se sou eu que não me encaixo no mundo, ou as outras
pessoas. É que não se faz mais gente como antigamente. A senhora também
reparou? Eu concordo, as pessoas vivem correndo e se apegam pouco às outras.
Acho que isso tá na moda. Mas eu vou além, dona Sônia. É um pouco dos dois. As
pessoas correm na ânsia de não se apegar. E vez ou outra encontram pessoas sem
sorte, como eu, que se apegam rápido demais. Que se entregam rápido. Será que o
erro tá em mim? Sim, às vezes eu penso isso. É que não entendo como elas chegam
e vão rápido. Se ao menos não nos conquistassem... Será que não sabem
o que fazer depois disso? Acho que elas precisam ir mais devagar, tomar uma Maracujina pra vida, lembrar que ela é uma só e que o outro têm sentimentos,
que é de verdade. Nem todo mundo curte a lei do desapego, do descartável. Acho
que o meu problema é não curtir. Eu poderia dar uns exemplos pra senhora,
mas no final isso levaria muito tempo. Tem um carinha ali, uma amiguinha lá... E por aí vai. Bem, vou indo, dona Sônia. Um amigo meu ficou de ligar. Vai que ele
liga, não me encontra e desaparece. Não vou querer dar sorte pro azar, né?
Amanda Vieira.
Que lindo, amei o texto...
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