5 de fevereiro de 2013

A vizinha.


Boa noite, dona Sônia, não vejo a senhora há algum tempo. Ah, a senhora me vê? Eu tô sempre passando pela sua rua não prestando atenção nas coisas, em outro mundo. Entendi. É que meus dias têm sido assim, dona Sônia, eu tenho dedicado boa parte deles a entender se sou eu que não me encaixo no mundo, ou as outras pessoas. É que não se faz mais gente como antigamente. A senhora também reparou? Eu concordo, as pessoas vivem correndo e se apegam pouco às outras. Acho que isso tá na moda. Mas eu vou além, dona Sônia. É um pouco dos dois. As pessoas correm na ânsia de não se apegar. E vez ou outra encontram pessoas sem sorte, como eu, que se apegam rápido demais. Que se entregam rápido. Será que o erro tá em mim? Sim, às vezes eu penso isso. É que não entendo como elas chegam e vão rápido. Se ao menos não nos conquistassem... Será que  não sabem o que fazer depois disso? Acho que elas precisam ir mais devagar, tomar uma Maracujina pra vida, lembrar que ela é uma só e que o outro têm sentimentos, que é de verdade. Nem todo mundo curte a lei do desapego, do descartável. Acho que o meu problema é não curtir. Eu poderia dar uns exemplos pra senhora, mas no final isso levaria muito tempo. Tem um carinha ali, uma amiguinha lá...  E por aí vai. Bem, vou indo, dona Sônia. Um amigo meu ficou de ligar. Vai que ele liga, não me encontra e desaparece. Não vou querer dar sorte pro azar, né?

Amanda Vieira.

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